15/08/2011

Inesperado e Interessante


Desde o início tenro da minha saga de músico/profissional, analisei várias mudanças drásticas (tenho vontade de usar a palavra “revoluções”) na tecnologia de áudio. Entre elas, a digitalização (que tirou do chão os pedais e empilhou os efeitos numa rack) e o MIDI (um protocolo para teclados trocarem informação). Sem falar nos processos de gravação. Desculpem, estúdio é de produtor. E produtor é quem transforma música em “produto”. Sendo assim, sou só músico. A revolução (pronto, usei a palavra) mais sintomática foi uma que não aconteceu. Nos anos 60, se os sintetizadores analógicos queriam imitar o som de algum instrumento já existente, o resultado ficava tão distante que soava original! Ao correr dos anos a digitalização, abria uma estrada potencialmente infinita para a originalidade. Mas, os sintetizadores começaram a ter, cada vez mais, sons que imitavam instrumentos já existentes: pianos, órgãos, cordas, metais...criou-se um vácuo, um buraco negro. Uma época sem sons próprios. A tal nova tecnologia anunciada além de copiar qualquer instrumento, criava instrumentos virtuais. A revolução morreu na casca. Os sons têm significados técnicos (frequências, timbres) e culturais: características inatas. Misturando-os: o inesperado e o interessante acontece. Apontando para uma montra, um menino disse ao seu pai: “Eu queria um computador daqueles da maçã. São os melhores do mundo!”. Tive vontade de dizer: não entres nessa, rapaz! O melhor computador é o de quem tem as melhores ideias.

15/06/2011

IDIOTIA

Noutros tempos os melhores pensavam pelos idiotas; hoje os idiotas pensam pelos melhores. Foi criada uma situação trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota elimina-o. O idiota multimédia é aquele sujeito que é capaz de fazer o malfeito em várias coisas ao mesmo tempo. Se alguém diz que as suas obras não prestam, afirma dizendo que o trabalho dele é “poesia”. Se a “poesia” dele não vale o que o gato enterra, ele argumenta que é só um passatempo e na verdade: avança propaganda.
Assim este tipo idiota consegue ocupar as mais variadas “páginas” de colunas sócio-culturais ao mesmo tempo, sem fazer o que está certo, sendo o marketing social, uma forma cultural aceitável da idiotice.
Significa que podemos fazer de tudo, desde que estejamos ao lado das pessoas certas com os argumentos correctos das nossas próprias idiotices. Ninguém precisa saber se somos entendidos na matéria, o irrelevante é o ramo mais quente da idiotice em nosso país.
O Michael Jackson é um dos maiores idiotas da história da humanidade. Tão idiota, que durante muito tempo, fez o mundo acreditar que ele não era negro. Assim sendo podemos elaborar idiotia sobre tudo.
Com um pouco de segurança na nossa voz e meia dúzia de informações é possível sermos o que quisermos.
O importante é ser criativo, ter excesso de confiança e falta de vergonha na cara.

15/04/2011

Harmonia

Na prática musical existe na sua nomenclatura uma palavra fundamental para a existência Humana: a Harmonia. Através dela diferentes sons se completam em função da música, procurando um objectivo comum. Nenhuma nota é uma ilha, assim como nenhum ser humano o é. O associativismo é uma forma de organização através da qual os indivíduos procuram, em conjunto, alcançar objectivos comuns, harmonizando diferenças em torno de causas próprias, sejam de interesse material, social, jurídico, na saúde, na educação, ou na recreação, enfim, as necessidades comuns. O associativismo na música representada por uma entidade seria (quase) pioneira na nossa região, com uma gestão actualizada da não praticada lei (!) em vigor. Esta teria de ser (re)harmonizada nos interesses da categoria que representa: os músicos, na celebração de acordos de suporte jurídico, fiscal, previdência ou em pactos. Quanto maior a participação neste corporativismo, mais fortes e acessíveis serão os seus objectivos e resultados. Pelas características da sua profissão, os músicos na sua maioria trabalham em iniciativas de carácter autónomo, com “vinculações obsoletas” trabalhistas, ao contrário de empregados de corporações que, em grupo, conseguem regalias em “produtos” que protegem os seus direitos de cidadão comum. Os direitos de outros profissionais liberais (advogados, motoristas, médicos...) existem e são (re)negociados quando as circunstancias sócios/económicas abalam... se calhar percebem bem mais de Harmonia...!

22/03/2011

o primeiro de maio

Para um músico o Primeiro de Maio será uma mera possibilidade de trabalho, ou um simples feriado? Se nós, músicos, somos supostamente sensíveis e dotados de um senso maior e intelectualmente privilegiados, deveríamos ter uma concepção mais profunda desta data. Não apenas a data, mas a partir disto nos inserirmos num contexto bem maior do que as nossas quatro paredes, onde diariamente nos esmeramos a lapidar a técnica e musicalidade. Precisamos romper estas paredes. Não é por acaso que o Primeiro de Maio é uma data que marca mundialmente a luta de trabalhadores que buscam dignidade e melhores condições de trabalho. Não é isso que nós músicos procuramos? Talvez a nossa dificuldade seja em nos perceber como trabalhador modelo, que de facto não somos. Uma legislação específica seria necessária!Justamente por termos uma actividade profissional "atípica", inserindo e coexistindo num colectivo regulador, para o exercício da nossa actividade que é alvo cada vez mais de um tratamento no descaso, na exploração e exclusão, despromovida de direitos básicos. Somos todos trabalhadores, actividades diferentes, mas iguais nos direitos e obrigações de cidadão e de ser humano. Dignidade é direito de todos, acesso ao trabalho é direito de todos, condição razoável de trabalho é direito de todos. Somos simultaneamente donos do som, da voz, da palavra; devemos nos fazer presentes e activos nas lutas colectivas: existindo como parte de um todo. Primeiro de Maio é o dia do músico!

Habilidade

Será que realmente importa ser bom ou não, relativamente a outro músico? Não como um desporto competitivo. É e deve ser uma arte. Tudo o que realmente importa é a capacidade de a expressar bem. Por mais que nós tenhamos gostado ou respeitado o cantor/guitarrista/compositor/ dos Nirvana, Kurt Cobain, devemos admitir que as suas habilidades musicais eram “primitivas” e muito limitadas, mas podemos ouvir a sua personalidade fluir através da sua música. Não importa se era um bom guitarrista, que o seu conhecimento de teoria musical fosse, provavelmente, perto de zero, ou tocasse por vezes desafinado com uma técnica de guitarra desleixada. Felizmente, para aquilo que ele queria expressar, ele não precisava de ter nenhuma das competências que a maioria dos músicos considera boas e necessárias. Se o Kurt quisesse expressar algo com outro significado ou mais complexo, iria ficar extremamente frustrado por não ter mais habilidades musicais do que aquelas que podem ser ouvidas. O meu palpite é que ele, provavelmente, não estava muito frustrado consigo musicalmente, porque ele não estava tentando ser melhor guitarrista, compositor ou cantor que os outros, garantindo o sucesso, não fazendo esse tipos de comparações entre ele e o resto do mundo da música. Espero que a maioria dos músicos que lerem isto tenham ambições musicais como o Kurt Cobain. A questão será, se estas ambições estão de acordo com as suas habilidades musicais e se são suficientes para expressarem na música que fazem?...

17/01/2011

DICA

A maioria dos aspirantes a músico recebe muitos conselhos de amigos e familiares sobre a melhor abordagem a tomar para a sua carreira musical: “a necessidade de ter algo aonde recorrer, no caso da música não funcionar” ou de ter “um plano B”. Outros são encorajados para obterem um diploma em algo onde possam facilmente encontrar um emprego, ficando a música para “tempo livre”. Em teoria parece bem, mas na realidade não funciona como previsto em quase todos os casos. Porquê?
Normalmente, a ocupação que a maioria arranja para obterem o seu sustento até que a sua carreira musical arranque, em geral ou especificamente, não tem nada a ver com música. Como resultado, acabam numa situação muito frustrante que torna quase impossível conseguir qualquer tipo de êxito como músico profissional.
Requer o cuidado com sugestões de pessoas que podem ter grandes intenções, mas falta o conhecimento e experiência como funciona a indústria da música, dando uma dica dominante: “aqui está o que deves fazer para não perder!”, esta mentalidade mantem longe o impulso da ambição de ser Músico, e muito raramente é sobre “como vencer!”.
Isto significa aprender a partir de alguém que o faça ou que já tenha feito, de preferência, alguém que já tenha ensinado a muitos.
Para construir uma carreira musical de sucesso e de longa duração requer muita dedicação e tempo, como em tudo na vida.