22/03/2011

o primeiro de maio

Para um músico o Primeiro de Maio será uma mera possibilidade de trabalho, ou um simples feriado? Se nós, músicos, somos supostamente sensíveis e dotados de um senso maior e intelectualmente privilegiados, deveríamos ter uma concepção mais profunda desta data. Não apenas a data, mas a partir disto nos inserirmos num contexto bem maior do que as nossas quatro paredes, onde diariamente nos esmeramos a lapidar a técnica e musicalidade. Precisamos romper estas paredes. Não é por acaso que o Primeiro de Maio é uma data que marca mundialmente a luta de trabalhadores que buscam dignidade e melhores condições de trabalho. Não é isso que nós músicos procuramos? Talvez a nossa dificuldade seja em nos perceber como trabalhador modelo, que de facto não somos. Uma legislação específica seria necessária!Justamente por termos uma actividade profissional "atípica", inserindo e coexistindo num colectivo regulador, para o exercício da nossa actividade que é alvo cada vez mais de um tratamento no descaso, na exploração e exclusão, despromovida de direitos básicos. Somos todos trabalhadores, actividades diferentes, mas iguais nos direitos e obrigações de cidadão e de ser humano. Dignidade é direito de todos, acesso ao trabalho é direito de todos, condição razoável de trabalho é direito de todos. Somos simultaneamente donos do som, da voz, da palavra; devemos nos fazer presentes e activos nas lutas colectivas: existindo como parte de um todo. Primeiro de Maio é o dia do músico!

Habilidade

Será que realmente importa ser bom ou não, relativamente a outro músico? Não como um desporto competitivo. É e deve ser uma arte. Tudo o que realmente importa é a capacidade de a expressar bem. Por mais que nós tenhamos gostado ou respeitado o cantor/guitarrista/compositor/ dos Nirvana, Kurt Cobain, devemos admitir que as suas habilidades musicais eram “primitivas” e muito limitadas, mas podemos ouvir a sua personalidade fluir através da sua música. Não importa se era um bom guitarrista, que o seu conhecimento de teoria musical fosse, provavelmente, perto de zero, ou tocasse por vezes desafinado com uma técnica de guitarra desleixada. Felizmente, para aquilo que ele queria expressar, ele não precisava de ter nenhuma das competências que a maioria dos músicos considera boas e necessárias. Se o Kurt quisesse expressar algo com outro significado ou mais complexo, iria ficar extremamente frustrado por não ter mais habilidades musicais do que aquelas que podem ser ouvidas. O meu palpite é que ele, provavelmente, não estava muito frustrado consigo musicalmente, porque ele não estava tentando ser melhor guitarrista, compositor ou cantor que os outros, garantindo o sucesso, não fazendo esse tipos de comparações entre ele e o resto do mundo da música. Espero que a maioria dos músicos que lerem isto tenham ambições musicais como o Kurt Cobain. A questão será, se estas ambições estão de acordo com as suas habilidades musicais e se são suficientes para expressarem na música que fazem?...